A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO), por meio da Escola Superior de Advocacia (ESA-GO), da Caixa de Assistência dos Advogados de Goiás (Casag) e da Comissão de Direito da Cultura, encerra nesta sexta-feira (14), a programação ESA Cultural, uma semana dedicada à integração entre Direito, arte e reflexão humanística.
Encerrando mais uma edição de sucesso, com entrada gratuita, o evento reuniu advogados, estudantes, docentes e profissionais de diversas áreas do conhecimento em uma noite de aprendizado e reflexão, consolidando o projeto como um espaço de diálogo entre arte, cultura e direito em Goiás que promoveu debates sobre as relações entre o discurso jurídico, a literatura e a construção da verdade no processo.
A cerimônia de abertura foi marcada pela apresentação da Orquestra de Violeiros de Goiás, sob a regência do maestro Geraldo Alves, que encantou o público com um repertório regional, reforçando a proposta do ESA Cultural de valorizar a arte e a cultura goiana como parte essencial da formação humanística da advocacia de Goiás.
O diretor-presidente da ESA-GO, Rodrigo Lustosa, abriu brilhantemente este último encontro, destacando que a iniciativa conclui sua edição “com chave de ouro”, reafirmando o compromisso da instituição em promover uma formação que ultrapasse os limites da técnica e alcance também a sensibilidade, a criatividade e a pluralidade cultural.
Em sua fala, Lustosa reforçou o papel da cultura na formação da advocacia.
“A ESA Cultural nasceu para mostrar que o conhecimento no Direito não se sustenta sem imaginação, sensibilidade e diálogo com outras formas de expressão. A advocacia precisa de arte porque o Direito também é narrativa, também é interpretação, também é humanidade. Esta semana revelou o quanto existe sede de cultura e a ESA é, e continuará sendo, a casa onde esse encontro acontece”, afirmou.
O presidente da Comissão de Cultura da OAB-GO, Victor Hugo Agapito, agradeceu a Orquestra de Violeiros de Goiás pela apresentação que abrilhantou a noite e estendeu seu reconhecimento a todos os presentes e palestrantes pelas contribuições.
“Iniciativas como essa reforçam a missão da OAB-GO de promover integração entre cultura, sensibilidade e reflexão jurídica, enriquecendo a formação e o olhar crítico da advocacia goiana”, declarou.
Palestra
A roda de conversa, com o tema central “Direito, Narrativa e Ficção: A Verdade no Processo”, reuniu especialistas que analisaram como as histórias, os discursos e as construções simbólicas influenciam a compreensão dos fatos e a construção da verdade no âmbito jurídico.
Durante o encontro, os palestrantes destacaram que compreender o processo judicial vai muito além da interpretação de provas ou da aplicação técnica da norma. Enfatizaram que toda disputa envolve personagens, versões, memórias e escolhas narrativas que moldam a percepção dos fatos e influenciam a formação da verdade no processo.
O advogado e pesquisador Edson Dias iniciou com uma abordagem da centralidade das narrativas nos julgamentos, ressaltando que as decisões jurídicas são sempre resultado do embate entre histórias distintas, e que reconhecer essa dinâmica contribui para uma justiça mais humana e transparente.
O desembargador e escritor Itaney Francisco Campos aprofundou a reflexão ao afirmar que a verdade processual não é descoberta, mas construída. Destacou que essa construção depende do diálogo, da escuta e da responsabilidade de todos os envolvidos no processo, ressaltando a importância da interdisciplinaridade na prática jurídica.
O historiador e gestor cultural Nasr Fayad Chaul apresentou uma perspectiva histórica e literária sobre o discurso jurídico, evidenciando que o Direito também opera como forma de contar histórias, já que julgadores e intérpretes do Direito constroem suas leituras do mundo a partir de valores, memórias e referências culturais.
Por fim, a professora e advogada Gabrielle Andrade reforçou a necessidade de uma formação jurídica sensível e crítica, capaz de dialogar com as experiências humanas e sociais que atravessam o Direito. Ela pontuou que a arte, a literatura e as narrativas culturais ampliam a sensibilidade, permitindo que enxergue para além das normas e compreenda com maior profundidade os conflitos reais.
Ao longo da roda de conversa, foram apresentados exemplos concretos de como a literatura, a ficção e as narrativas culturais contribuem para a compreensão dos conflitos, das subjetividades e das disputas simbólicas presentes nos processos. Entre os aspectos discutidos estiveram a influência dos enquadramentos narrativos nas decisões judiciais, o impacto das escolhas linguísticas na construção da verdade e o papel da imaginação jurídica no processo de interpretação.
Os debates também trouxeram reflexões sobre os desafios que essa abordagem impõe ao pensamento jurídico contemporâneo, especialmente no que diz respeito à necessidade de maior sensibilidade narrativa, à valorização da escuta qualificada e à compreensão das múltiplas camadas que compõem os conflitos humanos. A ausência dessa perspectiva pode reduzir a complexidade das histórias individuais, invisibilizar contextos sociais relevantes e limitar a busca por justiça real e efetiva.







